Mantendo-se firme!!
pelo Irmão Andrew, CSWG Novembro de 2004
Irmão Andrew é um membro da Comunidade dos Servos da Vontade de Deus, uma pequena comunidade de monges anglicanos que vivem em Crawley, UK.
Peço licença para falar como um monge vivendo uma vida enclausurada de oração contemplativa.
Quando o monge inicia a sua entrada na clausura ele pode estar cheio de zelo pelas coisas de Deus e pronto para fazer qualquer trabalho que se lhe apresente. Geralmente ele encara esses trabalhos de um modo prático. Entende ele que o seu serviço não consiste em sair pela paróquia e prestar auxílio nos trabalhos de assistência ali realizados pela Igreja, mas percebe que num mosteiro há todo tipo de trabalho que precisa ser feito; fazer a manutenção dos prédios, ajudar na granja ou no jardim, guardar os livros, dar a sua contribuição em todas as obrigações e trabalhos domésticos a serem feitos à sua volta, e assumir que sua vida consistirá em realizar esses trabalhos práticos e visíveis dentro da clausura monástica.
Mas, esperando por ele ali está um trabalho, uma tarefa, um encargo, de um tipo realmente diferente que ele não podia saber até ser colocado diante dele. É um trabalho de espera, de manter-se firme, de guardar a fé, de observar e rezar, de esperar no Espírito Santo, enquanto parece que nada está acontecendo à sua volta. Na verdade, as coisas à sua volta às vezes podem parecer ir muito erradas, podem parecer, realmente, que estão se encaminhando para um desastre.
Agora ele tem um trabalho em suas mãos - manter-se firme, manter a fé, manter o que lhe foi confiado inicialmente, e seguir em frente. Embora esse trabalho não pareça ser para o mundo de maneira nenhuma um trabalho verdadeiro, e não deixará de haver observador que diga: "Você não está fazendo nada! Você devia prosseguir com algum trabalho de verdade!". E é, de fato, um trabalho prático que precisa ser feito, tal como o alimento que precisa ser preparado e a grama obviamente que precisa ser cortada e a capela obviamente que precisa ser arrumada para a Eucaristia.
Vocês podem estar pensando: "Bem, sim, é realmente interessante, mas o que é que isso tem a ver conosco aqui?" Bem, tem tudo, eu acho. Porque, como eu disse muitas vezes anteriormente, a espiritualidade da A Verdadeira Vida em Deus é uma espiritualidade monástica, destinada a cada um e acessível a cada um, em qualquer lugar que estejam e em quaisquer circunstâncias. Ela é 'monástica' naquilo que era o que os monges no início saíam pelo deserto a procurar, há 1700 anos, quando perceberam que havia alguma coisa a mais, alguma 'outra' coisa a qual eles eram levados a desejar e a esperar. Tendo-a encontrado, descobriram que ela não se destinava somente a eles e nem tão pouco aos 'crentes', mas era a herança de cada um.
O testemunho monástico não é universalmente apreciado dentro da Igreja e pela Igreja como um todo, como também não é apreciada A Verdadeira Vida em Deus, como estamos vendo hoje. O que ela anuncia à Igreja é, para muitos, bastante difícil de alcançar, e podemos encontrar desconcertantes incompreensões, senão uma franca hostilidade, quando tentamos apresentar algum testemunho.
Mas, é aí que entra a perseverança, o manter-se firme, apegar-se àquilo que sabemos ser verdadeiro e correto. E, enquanto nos mantemos firmes, enquanto prosseguimos, alguma coisa acontece e a nossa vida espiritual se torna mais profunda, mais extensa e realmente mais "tranqüila" do que talvez tenha sido bem no princípio, quando nós rodávamos trabalhando, trabalhando, trabalhando.
Isto não é um pretexto; não é nos desculpando por não termos sido 'bem sucedidos', embora o mundo diga sempre o contrário.
Se o seu grupo de oração não é o sucesso vibrante que um dia você esperou que ele fosse. Se a sua vida de oração está ressequida e mais árida do que você acha que pode lidar, se as suas esperanças e seus sonhos para o futuro parecerem ter se dissipado, se os seus esforços para trabalhar, por Deus não estão obtendo o devido resultado, aguenta firme! Você está caminhando numa estrada bem conhecida, na companhia daqueles que já fizeram essa caminhada antes de você. Fale com eles, pense neles, converse com eles, comemore os seus Dias de Festas, desfrute da sua companhia, dos seus conselhos. Eles podem lhe dizer que, sim, é assim mesmo, mas vá em frente e através dele e, você também, chegará a entender as coisas de uma forma e de uma profundidade que você nunca foi capaz antes.
Faça suas orações, guarde sua fé, leia as mensagens. Uma mensagem por dia, se você não tiver tempo para mais nada e prossiga na espera.
Breve chegará o Advento, e nós estaremos cantando: "Se Ele parece lento, espere por Ele… Ele virá, com certeza, Ele não tardará..."
Você percebeu? As coisas têm estado muito tranquilas nestas últimas semanas. E, às vezes, podemos sentir uma certa inquietação, um desejo de mantermos baixadas as nossas cabeças e ficarmos quietos. Nosso Senhor tem trabalhado nos nossos Corações, preparando-os para a Estação que se aproxima. Quando coisas como estas estão acontecendo, não é hora de se falar muito, é, realmente, tempo de prosseguir em silêncio e deixá-Lo fazer o Seu trabalho dentro de nós.
É uma coisa assombrosa, no Hemisfério Norte, especialmente, como esta mudança interior, de acordo com as Estações do Ano da Igreja, ocorre atrelada com a mudança exterior. Como o Outono se estabelece e as longas noites vêm sobre nós mais uma vez.
Graças sejam dadas à Igreja e às suas Estações Litúrgicas, e ao trabalho que Ela nos permite realizar dentro dos seus limites.
Melhores votos, Irmão Andrew, CSWG
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