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Transformação do Espírito de Alguém Através do Arrependimento e Amor

Arcebispo Vincent M. Concessao, Arcebispo de Delhi

Introdução

Archbishop Vincent M. Concessao, Archbishop of Delhi
Arcebispo Vincent M. Concessao, Arcebispo de Delhi

Estamos aqui reunidos nas ilhas de Rodes, cercados de beleza e embora cercados de muita água do mar, algumas vezes conhecida por suas ondas de maré, tempestades e Tsunamis, a atmosfera é bastante tranquila, um ambiente adequado para reflexão de matérias relacionadas ao espírito. Estou grato aos organizadores, particularmente à Sra. Vassula, por me convidarem a partilhar minhas visões.

Vamos olhar para o que é Transformação. Num contexto organizacional, é um processo de mudança profunda e radical que orienta uma organização em uma nova direção e a leva a um nível de efetividade inteiramente diferente. Não é um mero incremento de progresso no mesmo plano ou uma mudança de uma situação má para uma boa. Transformação implica numa mudança básica de caráter e pequena ou nenhuma semelhança com a configuração ou estrutura passada.

Francês Vaughan descreve lindamente, “ Transformação realmente significa uma mudança na maneira do modo como você vê o mundo – e uma mudança em como você se vê. Não é simplesmente uma mudança no seu ponto de vista, mas, antes, uma percepção completamente diferente do que é possível. É a capacidade de expandir sua visão de mundo de forma a poder apreciar diferentes perspectivas, de forma a manter múltiplas perspectivas simultaneamente. Você não está apenas se movendo de um ponto de vista ao outro, você está realmente expandindo sua consciência para englobar mais possibilidades. Transformação implica numa mudança do senso de si mesmo. ”

Aqui vamos refletir sobre a transformação do espírito, o que é, novamente, bem diferente e pertence mais ao mundo espiritual que ao mundo biológico, técnico ou material. Os dois temas ou pontos principais a lembrar em nossa reflexão são Arrependimento e Amor.


Arrependimento

Arrependimento é o ato de mudar de ideia. Webster define a palavra como “sentir pena por ou cheio de reprovação por algo feito ou não feito. ” Webster também dá a definição como sendo sentir tanto desgosto e insatisfação sobre uma ação ou intenção passadas a ponto de mudar de idéia sobre o fato ou mudar seu próprio caminho.

Arrependimento envolve uma troca de afeições – de coisas terrenas por coisas celestes. Envolve a volta de um deus próprio para o Deus vivo. Está olhando para Cristo ao invés de olhar para qualquer outro.

Arrependimento requer a rejeição do pecado e rendição a Deus. Arrependimento é um retorno a Deus. Arrependimento implica também na atitude correta em relação a si próprio. O Filho Pródigo voltou a si mesmo. Arrependimento é a atitude correta em relação aos outros. O carcereiro Filipense tomou Paulo e Silas na mesma hora da noite e lavou suas faixas.

Arrependimento não é desespero sombrio. Quando Judas vendeu seu Mestre por trinta moedas de prata, ele foi preenchido de escuridão e desespero, tanto que cometeu suicídio, mas não se arrependeu. Arrependimento não é deixar um pecado por uma estação, é desviar-se totalmente daquele ato de pecado, uma volta completa de 180°. Arrependimento não é esconder o pecado. Davi tentou esconder seu pecado, mas Deus o expôs. Mesmo nós sabemos a respeito do pecado de Davi atualmente.

Arrependimento deve ser seguido de obras provando esta mudança. Em At 19,19, o arrependimento foi evidenciado trazendo livros com valor de cinquenta mil moedas de prata e queimando-os na presença de todos os homens. Isto permitiu a todos os homens saber da mudança. Todos precisam arrepender-se. Todos pecam e como resultado, todos têm necessidade de afastar-se do pecado e voltar-se para a retidão. Novamente, quando Paulo estava falando do Areopagus para os Atenienses e raciocinava com eles a respeito do Deus vivo, ele disse-lhes que em tempos passados Deus havia relevado a ignorância dos Atenienses, mas agora havia ordenado a todo o povo, de todas as partes, que se arrependesse (At 17,30).

Os Tessalonicenses mostraram sua sinceridade abandonando ídolos para servirem ao único verdadeiro Deus (1Ts 1,9). Paulo escreveu a primeira carta aos Coríntios e incluiu uma denúncia severa dos seus atos pecaminosos. Contudo, parte da segunda carta a eles foi escrita cumprimentando-os por afastar-se do seu vil modo de viver.

“Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro disse: ‘Filho, vai trabalhar hoje na vinha. ’ Ele respondeu: ‘ não quero’; mas depois, arrependeu-se e foi. ” (Mt 21,28-29). O que quer que este jovem homem tenha feito, Jesus disse que ele se arrependeu. Jesus nominou este ato arrependimento. O jovem homem refletiu sobre o assunto, chegou à conclusão de que estava errado, dando-se conta de haver pecado contra seu pai. Chegando a esta conclusão, o homem jovem voltou-se na direção oposta e fez de acordo com o pedido de seu pai.

Quem não anda no caminho reto precisa arrepender-se. Em Atos dos Apóstolos, capítulo 8, é contada a história de um homem que obedecia ao Evangelho, foi batizado, mas depois, por amor ao ouro e à popularidade, queria comprar o dom do Espírito Santo. Neste tempo, fica aparente que o coração de Simão não era sincero e puro. Deus, conhecendo o coração de todos e certamente conhecendo o coração de Simão nesta ocasião, dirigiu Pedro, pelo Espírito Santo, para dizer a Simão “arrepende-te, pois, desta maldade tua e ora ao Senhor, para que te possa ser perdoado este pensamento do teu coração;” (At 8, 22). A coisa que vinha primeiro e era indispensável era arrepender-se ou mudar de atitude e desejo. Foi ordenado a Simão que experimentasse o lamento apropriado por este ato e para abandonar este plano, ou princípio ou ação. Isto nos leva a saber hoje os que são injustos são exortadas a se arrependerem. Este é seu primeiro trabalho. Não lhes é dito para esperar, ler, rezar, receber uma experiência, relacionar uma revelação na expectativa de que o arrependimento lhes seja dado. Estes seres injustos têm que arrepender-se, mudar sua afeição e voltar-se para o Deus vivo. Então a oração será aceitável e, somente quando nos arrependermos, Deus ouvirá e responderá. Quando alguém vem, sem ter renunciado a seus pecados e resolvido a continuar cometendo-os, Deus não o ouvirá. (Jo 9,31; 1Pe 3,12)

Existe uma benção no arrependimento. Para alguém que nunca foi batizado em Cristo, voltar-se para o Deus vivo é o passo inicial de sua resposta ao amor de Deus sobre o qual ele tem ouvido, e acreditado, sendo puxado pela vida de Jesus Cristo, O salvador do gênero humano. Para aqueles que foram dirigidos, como Simão, pelo amor ao poder e o amor do mundo, é o ato inicial que leva alguém a ser restaurado à sua antiga relação com o Pai.

A epístola de São Pedro diz que a bondade de Deus deveria levar qualquer homem ao arrependimento, “ Deus não quer que ninguém se perca, mas que todos venham a converter-se.” (2Pe 3, 9). Esta é a bondade de Deus. Este é o amor de Deus.

Arrependimento é uma mudança de afeto, um retorno a Deus. Abandonar Satanás e servir ao Salvador, salva alguém da destruição. Cristo disse e Lucas escreveu no capítulo 13, versículo 3 de seu Evangelho, “Não, eu vos digo; todavia, se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo. ” É mau pecar, mas é pior pecar e não se arrepender.

Uma das coisas mais duras de fazer para homens e mulheres é arrepender-se de seus pecados. Arrependimento é um desafio direto ao orgulho do homem. Ele demanda que o homem se humilhe perante Deus, e que desista de tudo o que é contrário ao seu desejo. As exigências sagradas do arrependimento têm mantido muitos dos arrogantes fora do reino de Deus.

O arrependimento é um dever imposto a todo o gênero humano. É uma ordem clara de Deus e nenhum homem pode recusar-se a arrepender-se sem assumir a responsabilidade que deverá vir sobre si. Quando Jesus deu a comissão mundial, Ele disse, “ que, em Seu nome, fosse proclamado o arrependimento para a remissão dos pecados a todas as nações...” (Lc 24, 47).

Vamos esclarecer alguns mal-entendidos sobre arrependimento, aprendendo o que não é. Em primeiro lugar, arrependimento não é simplesmente estar com medo. Paulo acusou Felix de seus pecados, Felix tremeu com medo, mas não se arrependeu e mudou (At 24, 25). Existem muitas pessoas hoje que têm medo, quando pensam em sua pecaminosidade, mas, como Felix, recusam-se a arrepender-se e morrem sem esperança.

Em segundo lugar, arrependimento não é apenas lamentar-se de haver pecado. Os assassinos de Jesus lamentaram no Pentecostes, na pregação de Pedro. Foram penetrados em seu coração pela pena. Mesmo assim lhes foi dito para se arrependerem. (At 2, 38). Sua pena era uma resposta à pregação de Pedro da Palavra de Deus. Em terceiro lugar, arrependimento não é simples e somente uma reforma da vida. Um homem pode deixar o pecado e ainda assim não se arrepender na direção de Deus. Ele pode abandonar porque aquele pecado em particular o torna impopular em seus negócios ou entre seus associados. Desta forma, ele pode reformar sua vida por razões egoístas, mas esta reforma não é arrependimento. Simplesmente estabelecido, arrependimento é uma mudança da mente e do desejo baseada na tristeza (2Cor 7, 10), e resulta num modo de vida dirigido por Cristo (At 26,20).

Nosso Senhor nos deu um exemplo de arrependimento que todos nós podemos compreender. Ele disse, “Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro disse: ‘Filho, vai trabalhar hoje na vinha. ’ Ele respondeu: ‘ não quero’; mas depois, reconsiderando a sua atitude, foi. ” (Mt 21,28-29). Este garoto começou a refletir sobre o que tinha feito e então se deu conta de que havia desobedecido seu pai. Ficou consciente do fato de haver pecado contra o seu pai, que era o responsável por sua existência e, quando se voltou para ele mesmo, reconheceu aquele erro, e então o corrigiu. Ele mudou de idéia (arrependeu-se) e fez o que havia dito que não faria. Jesus disse que isto era arrependimento.

Cristo disse aos fariseus que, “ Os habitantes de Nínive se levantarão no julgamento, juntamente com esta geração, e a condenarão, porque eles se converteram pela pregação de Jonas. Mas está aqui algo mais que Jonas!” (Mt12, 41) Jesus diz aqui que o povo de Nínive se arrependeu pela pregação de Jonas. A Bíblia diz “E Deus viu as suas obras: que eles se converteram de seu caminho perverso” (Jn 3,10). A pregação do profeta de Deus mudou o entendimento dos Ninivitas e esta mudança levou-os a desviar-se do seu mau caminho. Esta mudança de entendimento foi arrependimento.

O Senhor deu aos homens dois motivos como meios de trazê-los ao arrependimento. O primeiro motivo que Deus usa para nos trazer ao arrependimento é amor. A Bíblia diz, “...desconhecendo que a benignidade de Deus te convida à conversão” (Rm 2,4) A benignidade de Deus é revelada na vida e morte de Seu Filho único, Jesus Cristo. À medida que estudamos a vida de nosso Senhor, que tornou possível para pobres pecadores serem salvos e se tornarem filhos de Deus, nos perguntamos porque todo este fluxo de amor, porque toda esta demonstração de bondade?

O segundo motivo é temor. Os escritores da Bíblia dizem, “ Porquanto todos nós teremos de comparecer manifestamente perante o tribunal de Cristo, a fim de cada um receba a retribuição do que tiver feito durante a sua vida no corpo, seja para o bem, seja para o mal.” (2Cor5, 10-11). Esta declaração e todos os avisos na Bíblia têm a intenção de nos mover para o arrependimento dos nossos pecados.

Amor

Uma pequena reflexão sobre Amor que deveria trazer Transformação.

A primeira coisa que me vem à mente sobre amor é do Evangelho de São João, “Pois Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Único...” (Jo 3, 16) um dos versículos mais citados para apresentar o Cristianismo ao mundo. Vamos deixar claro que nós, Cristãos, acreditamos que foi Deus quem tomou a iniciativa de nos amar primeiro, como João diz novamente em sua carta, “ Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele quem nos amou e enviou-nos o seu Filho como vítima de expiação pelos nosso pecados.” (1Jo 4,10).

Mas antes que João diga que Deus nos amou primeiro no versículo 10, nos versículos 7 e 8, ele diz, “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor é de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conheceu a Deus, porque Deus é Amor. ”

Mesmo antes que possamos começar a falar sobre como o amor pode transformar nosso espírito, devemos estabelecer duas coisas que são enfatizadas na primeira carta de São João, capítulo 4, uma, que Deus nos amou primeiro e duas, que precisamos nos amar mutuamente, não apenas porque Deus nos amou primeiro e esse amor vem de Deus, mas também porque São João diria que “Aquele que não ama não conheceu a Deus, porque Deus é Amor. ”

Há muitas coisas que podem ser ditas sobre o poder do amor de diferentes ângulos. É dito que amor é a palavra mais usada, mal-usada e mesmo abusada nas linguagens, bem como na vida. Mas a mensagem subjacente que tiramos disto é que amor, por sua natureza, é doação. Deus teve que compartilhá-lo com os seres humanos, “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Único...”. O que também deve ser lembrado é que o amor de Deus é gratuito e dado livremente. Não porque o desejamos, como são Paulo põe na carta aos Romanos, “Dificilmente alguém dá a vida por um justo; por um homem de bem talvez haja alguém que se disponha a morrer. Mas Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando éramos ainda pecadores. ” (Rom 5, 7-8). Descobrimos isto todo o tempo. De fato, toda a história da Salvação Humana é isto. Deus criou Adão e Eva a partir do dom gratuito de Seu amor e depois, mesmo quando pecaram, Ele nãos os abandonou. Através de todo o antigo Testamento, Deus toma a iniciativa e envia profetas depois de profetas para trazer o povo de volta ao bom caminho através do arrependimento.

Em Isaías 49, Deus diz, “ Por acaso uma mulher se esquecerá da sua criancinha de peito? Não se compadecerá ela do filho do seu ventre? Ainda que as mulheres se esquecessem eu não me esqueceria de ti. Eis que te gravei nas palmas da minha mão...” (Is 49, 15-16). Novamente, em Jeremias ouvimos, “ ...Eu te amei com um amor eterno, por isso conservei para ti o amor” (Jr 31, 3). Em Oséias, encontramos, ”. Mas quanto mais eu os chamava, tanto mais eles se afastavam de mim. Eles sacrificavam aos Baals e queimavam incenso aos ídolos. Fui eu, contudo, quem ensinou Efraim a caminhar, eu o tomei em meus braços, mas não reconheceram que eu cuidava deles! Com vínculos humanos eu os atraía, com laços de amor eu era para eles como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto, eu me inclinava para eles e os alimentava. ” (Os 11, 2-4).

Quando vimos aos textos do Novo Testamento e aos ensinamentos de Jesus encontramos de novo e de novo Jesus enfatizando sobre o amor incondicional de Deus, Sua generosidade, Seu perdão, Sua compaixão e Gentileza. O Novo testamento está cheio deles e embora seja difícil pinçar referências especiais, vou apenas tomar exemplos de uma parábola e um par de incidentes dos Evangelhos e elaborar um pouco sobre a Epístola de São Paulo aos Coríntios, capítulo 13. A primeira é a parábola do filho pródigo. Embora a parábola tenha muitos ensinamentos diferentes para nós, os dois mais importantes são sobre os requisitos para a transformação do Espírito, ou seja, arrependimento e amor.

Encontramos no capítulo 15 do evangelho de Lucas, a história mais tocante do Novo Testamento – aquela do Filho Pródigo. Mas já nos versículos 7 e 10 do mesmo capítulo encontramos Jesus dizendo “ Eu vos digo que do mesmo modo haverá mais alegria no céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento.” Isto é algo que já tínhamos visto.

Então no versículo 11 e seguintes encontramos a história do filho pródigo e note aqui que o filho pródigo retorna ao seu pai e está arrependido de seus pecados e o pai derrama seu amor incondicional sobre ele e o perdoa. Isto é o que ocasiona a transformação no filho. Se a parábola devesse continuar, gostaria de pensar que o filho pródigo passaria a representar o filho mais obediente porque agora teria vindo a conhecer seu Pai, como não tinha conhecido antes realmente. Se ele tivesse conhecido seu Pai, não teria ido embora e terminado na miséria.

Outro muito bom exemplo de transformação do espírito de alguém através do arrependimento e amor é o de Zaqueu, um cobrador de impostos sênior. Ele não estava satisfeito com sua condição. Dinheiro ele deve ter tido em quantidade, mas me pergunto se alguém alguma vez sorriu para ele, porque coletores de impostos eram olhados do alto como pecadores. Ele deve ter escutado falar de Jesus e isto deve ter dado a ele alguma esperança de encontrar um pouco de paz, que o dinheiro não podia obter para ele. Portanto, quando ficou sabendo que Jesus estava passando, foi-nos dito que ele correu e subiu num sicômoro. Adultos normalmente não correm na rua, muito menos sobem em árvores. Parece que a esperança que Jesus lhe deu, de alguma maneira, já o tinha habilitado a experimentar a liberdade que o amor confere.

Não sabemos o que ele esperava de Jesus, mas quando Jesus o viu, que surpresa ele teve. Jesus convidou-se para a casa de Zaqueu. O homem ficou tão impressionado com este convite que experimentou conversão imediata. Adquiriu uma nova imagem de si mesmo, não mais como as pessoas pensavam que ele era, mas como Jesus pensou que ele era. Um homem parcimonioso que vinha acumulando fortuna todos esses anos subitamente fica tão generoso que doa a metade de seus bens aos pobres e quatro vezes o que tinha para pagar a outros. Isto é o poder do amor, que dá uma nova imagem da pessoa amada e origina uma transformação no cerne de sua percepção própria. Ele olha para si mesmo de uma forma diferente e olha para os outros também de modo diferente, como resultado de ser realmente amado.

A iniciativa de Jesus deu a Zaqueu uma nova imagem dele mesmo como feito à semelhança de Deus. Os outros não eram mais ameaça para ele. Eram companheiros humanos, seus próprios irmãos e irmãs, e por isso ele doou tão generosamente. No momento em que Jesus entrou em sua vida, o dinheiro não teve mais valor. Ele daria tudo sem qualquer pensamento para o dia seguinte. Alguém disse que Zaqueu deve ter exaurido seu dinheiro para manter a promessa que fez e possivelmente mesmo dispor de sua casa, mas não importava. Jesus entrou na sua vida. Ele era precioso aos olhos de Jesus e isto era suficiente.

Um outro exemplo é o de Jesus lavando os pés dos discípulos. Este é um exemplo extraordinário da expressão do amor de Jesus. Outra vez há muitas coisas coisas que podem ser ditas a respeito deste único evento no Evangelho de João. Mas é útil refletir que, fazendo isto, Jesus torna a vida de seus apóstolos imensuravelmente mais desafiadora. Ele mostra a eles exatamente o que significa ser servo. Ele serve o homem que irá em poucas horas negar mesmo conhece-lo. Ele serve o homem que irá, em algumas horas, entrega-lo aos soldados. Ele serve o homem que, três anos antes, havia perguntado que bem poderia surgir de Nazaré? Ele serve o homem que havia discutido sobre quem seria o maior entre eles. Ele estava lavando os pés que iriam, em algumas horas, correr dele. E não é como se ele não soubesse o que esses pés, esses corações, iriam fazer. Jesus disse a eles o que fariam mais tarde. Mas ainda assim lavou-lhes os pés. E esse comportamento nos convida a fazer o que ele fez. Ele espera que o façamos, quando estivermos com aqueles de quem somos mais próximos, aqueles que somos mais propensos a tratar com familiaridade ou desdém, cair de joelhos e ajuda-los.

Se o amor deve ser transformador deve então converter-se em serviço humilde e amoroso aos outros. Madre Teresa, que eu tive oportunidade de encontrar várias vezes na Índia, inclusive pregando um retiro a ela e suas irmãs, nos deu um exemplo de amor em serviço. Quando somos envolvidos por este tipo de amor, não haverá tempo para nada mais, pois já teremos sido transformados pelo amor de Deus em nossas vidas. Não devemos imaginar que servir a outros por amor será sempre matéria de alegria interior. Não era para Santa Teresa. Na maior parte de sua vida ela atravessou a noite escura da alma, a um ponto que uma vez ela escreveu: se existe inferno, é isto.

O que a sustentou na sua escuridão foi a explicação dada a ela por seu pai espiritual, notadamente, que ela estava partilhando a agonia de Jesus na cruz, quando ele gritou em alta voz a Deus: “ Pai, porque me abandonaste? ” E que ela estava também experimentando a rejeição e a solidão e o isolamento por que passam os mais pobres entre os pobres, os pacientes com lepra e os destituídos morrendo nas ruas.

A transformação que o arrependimento e amor originam não deveriam ser compreendidos como um estado de vida em êxtase, mas realmente acompanhar Jesus na sua morte e ressurreição até o fim nesta vida e paz duradoura e alegria depois.

 

 
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